30 de dezembro de 2004

Verifico a sensibilidade de tudo o que se passa em nosso redor.
...
Troquei o olhar com um blog que visito habitualmente e disso se fala.
Mas quedei-me na mais absurda confirmação da pequenez humana
...
Não serve de desculpa, é a primeira mensagem de correio electrónico corrente que transcrevo na totalidade para o adversidades... e não me choca. A condição humana, repito, ruiu.

Na SIC Notícias deu uma reportagem onde entrevistaram portugueses que partiram depois da tragédia para a Tailândia, mantendo as férias marcadas como antes de tudo acontecer. D... F... respondeu que já tinha as férias marcadas, que não tinha ficado nada preocupada com o que tinha acontecido, porque os pais, que lá estavam, tinham enviado uma msg a dizer que tinha havido "uns tsunamis e umas coisas", mas estavam bem.
Quando a jornalista lhe pergunta se estava triste com toda a situação D... F... respondeu "sim, claro, agora já não vou ter todas as condições de férias que iria ter se por acaso não tivesse acontecido nada disto, por outro lado, estou contente, porque vejo as coisas mais ao natural, como elas são."


Ruiu.
E não se sente?

Feliz Ano Novo amigos. Feliz Ano Novo.

Cântico Negro

Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,Tendes jardins, tendes canteiros,Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Maria dos Reis Pereira (José Régio)


27 de dezembro de 2004

Kamala, Patong, Karon, Nui, Kata, Kata Noi.

Ao primeiro olhar, parecem nomes tirados de uma qualquer banda desenhada japonesa, tipo hentai, onde os super heróis tem faces parecidas com a Heidi e demoram uma eternidade a efectuar um gesto aparentemente simples.
Não são.
São o nome de algumas das incontáveis praias da outrora paradisíaca e desnoitada Ilha de Phuket situada na Amazing Thailand.
Banhada pelo mar de Andaman e de costas para o golfo da Tailândia, esta ilha saltou para a ribalta, zangada com Banguecoque e fazendo de encruzilhada para as culturas dominantes e colonizadoras, Portugal incluído.
Escrevo sobre Phuket, como poderia escrever sobre qualquer outra ilha ou país desta região do globo, e até porque Phuket não tem nada que ver com a ilha do Farol ou de Tavira, e ainda não escrevi sobre estas.
Não é um paraíso tipo
Phuket está para as Ko Phi-Phi, sobejamente divulgadas e inflacionadas com o filme “A Praia” de Danny Boyle, como Quarteira para as Berlengas. Nada a ver.
Mas hoje escrevo de Phuket.
A Ko Phuket, onde se vendem massagens e fruta fresca em troca de alguns bath, e onde o dia nasce às catorze horas, fruto daquela noite rocambolesca maquiada com alguns traços de surrealismo.
...
Hoje vi uma paragem.
O posto de Polícia na praia de Patong a ser engolido por um prédio de água.
Incontrolável, desmesurado e arrasador.
Recordo-me de estar meio sentado, meio de cócoras, num lancil de cimento perto daquele posto de polícia. De observar um rapaz imberbe, aparentando cerca de quinze anos, barba asiática dispersa, alardeando um revólver cromado chegado a uma farda não menos espampanante... e de passar por mim uma onda.
Uma onda... não de água, mas de uma qualquer mistura de pânico e compreensão.
Parei neste passeio, de cócoras, e pensei durante breves instantes na nossa incapacidade alienígena, tipo, sintoma “Expresso da meia noite” versão Kafka.
Era da viagem.
Tinha vindo de Kuala Lumpur de autocarro. Desnoitado, tive a certeza que era da viagem.
...
Na incapacidade. Aquelas ruas por onde passei, incapacitadas.
Canais de uma torrente de lama e sangue, onde antes o cheiro a esgoto e a protector solar, juntamente com os brados dos vendedores de relógios contrafeitos, serviam de chamariz para um viajante... incapaz.
Corpos estendidos nas praias, não de imensas almas ébrias mas de corpos de desprovidos de vida.
Chocou-me mais Phuket, que tudo o resto que contornou o maremoto na Ásia. Confesso.
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A ver se será um acordar do Irão.
Alguém parece estar a chamar a atenção da humanidade para qualquer coisa...`
Humanidade incapaz...

26 de dezembro de 2004

Muammar Kadhafi afirmou que a entrada da Turquia na União Europeia é o cavalo de tróia do mundo islâmico e dos seus extremistas...

Não se deveria ter mais atenção a estas afirmações, principalmente quando provindas de um homem cujo cognome é “O Terrorista” ?

Ai adverCidades adverCidades...

“Os blogues portugueses foram a mais importante alteração positiva do sistema comucacional nacional.
Têm, todos sabemos, coisas péssimas: leviandade, cobardia anónima, agressividade balofa, arrogância moral, manipulação, militantismo sectário.
Não são miasmas que vêm da nossa atmosfera pequena e asfixiante, cheia de ressentimentos e escassez de bens e lugares para a blogosfera.
Mas, da blogosfera, para fora, saiu qualidade, debate, controvérsia, imaginação e notícias.” Pacheco Pereira in Revista Sábado nº34

25 de dezembro de 2004

Estará na moda dizer que não se gosta do Natal?
Que já não é como era dantes?
...

24 de dezembro de 2004

Um Feliz e Santo Natal para os confidentes do AdverCidades.

21 de dezembro de 2004

Queria tanto falar a ninguém e que esse alguém me compreendesse.
...
O meu ponto de equilíbrio está prestes a ruir.
Todos o temos. Apenas varia a fonte de energia.
A matriz para que possamos ser nós.
Plenos de todas as capacidades. Na família, no trabalho, nos grupos que frequentamos.
...
É como na guerra.
Quando falha tudo o resto, consequência da perda da instabilidade.
Surge o confronto.
...
É como na guerra eterna.
Quando falas e ninguém te entende, por problemas de código ou de canal, ou até pelo facto do receptor não estar com interesse na transmissão.
Surge o desgosto.

O desequilíbrio brota quando acrescentado ao desinteresse se junta a alteração na comunicação original... e as fontes esgotam.

17 de dezembro de 2004

A influencia do ser humano no espaço físico.
...
Uma tremedeira na terra para os lados do Reino dos Algarves.
Chegámos ao limite, dizem os anciães da Vila.
Cada vez que a terra treme sente-se a ira dos deuses, e como se não bastasse, estamos desgovernados. Minto.
Irados.
E a Terra sente.

Para descontrair e soltar umas gargalhadas com as... adversidades.

Made in Korea...

http://www.rgstudios.com

e/ou

http://backkom.name/




Sinto que tenho catorze anos.
Ontem, repeti essa frase incessantemente.
Mas só no arrojo e no espírito.
O corpo esse, ...a aguardar melhores dias.
Reflecte-se na escrita.
Fica feia, emocional e descontrolada.
Como se as letras quisessem saltar para o papel com o fito de formarem palavras próprias, novas se possível.
...
Estas, por sua vez, ocultavam-me a sua verdadeira mensagem.
E mostravam-me ao mundo.
...
Não quero.
Prefiro ter catorze anos e escrever tal qual uma criança.
Com inocência.
A derramar letras para uma folha.
De forma desordeira.
Sem arrojo. Com espírito.
E a sentir.

14 de dezembro de 2004

Decalques da hipocrisia ou o a propagação desmesurada do síndromus ambiciosus na condição humana.

Ou será...

O síndromus ambiciosus derramado no funcionalismo público e a sua incompatibilidade com os “trabalhos” que exigem um chamamento. Uma vocação.

Sintomas:
Aspiração a qualquer coisa.
A ascensão na carreira a qualquer custo.
A “cunha” e o tráfico de interesses que imperam mesmo nos locais onde estes não podem existir. Os compadrios não familiares. Cumplices na desonra.

Breve descrição do síndroma:
Um infectado pelo síndromus ambiciosus no sector privado, acaba um curso, e vocacionado para tal, aspira a obter um emprego, de preferência dentro da especialidade que estudou.
Cerca de um ano após a entrada, e dominando as entranhas da empresa, aspira a subir na hierarquia e/ou, como não poderia deixar de ser, a ver o seu salário multiplicar-se.
Ano após ano, estes interesses serão sempre o objectivo primeiro. Mesmo que isso signifique mudar-se para a concorrência e atraiçoar por diversas vezes os valores das instituições que o fizeram crescer no sector... e/ou os seus mestres.
Fama e poder procuram-se.
...
Agora imaginemos estes mesmos deambulantes seres a cumprir funções em locais de vocação... onde a fé e a dedicação têm necessariamente que predominar.
A ascensão na carreira e o aumento de salários são também objectivos primeiros, antes da verdadeira função, antes de se dominar a acção presente... mesmo que para isso, não se decida, não se contrarie, não se controle, não se estude, não se trabalhe, não se ame, não se sofra, não se ataque, não se defenda, não se assuma, não se erre, não se sacrifique, não se chore, não se ria, não se cumpra. Em suma...
não se exista.
De tão paupérrima índole que apenas declare importante o título, o salário e o protagonismo.
E para isso não pode existir.
...
Masturba-se com o dr. adiante do seu pobre nome...
pobre nome.
Defende que a nobreza de sentimentos não passa de uma simples infâmia aos seus objectivos.
Esqueceu que existe.
Esqueceu o que faz... o que é ou o que foi.
Voltem os que foram acusados de excesso de protagonismo mas que vivem aquilo que fazem.
Que existem.
E que motivam os que por cá andam...

Y fue a esa edad ... Llegó la poesía
a buscarme. No sé, no sé de dónde
salió, de invierno o río.
No sé cómo ni cuándo,
no, no eran voces, no eran
palabras, ni silencio,
pero desde una calle me llamaba,
desde las ramas de la noche,
de pronto entre los otros, entre fuegos violentos
o regresando solo,
allí estaba sin rostro
y me tocaba.

Yo no sabía qué decir, mi boca
no sabía
nombrar,
mis ojos eran ciegos,
y algo golpeaba en mi alma,
fiebre o alas perdidas,
y me fui haciendo solo,
descifrando aquella quemadura,
y escribí la primera línea vaga,
vaga, sin cuerpo, pura
tontería,
pura sabiduría
del que no sabe nada
y vi de pronto
el cielo
desgranado
y abierto,
planetas,
plantaciones palpitantes,
la sombra perforada,
acribillada
por flechas, fuego y flores,
la noche arrolladora, el universo.
Y yo, mínimo ser,
ebrio del gran vacío
constelado,
a semejanza,
a imagen
del misterio,
me sentí parte pura
del abismo,
rodé con las estrellas,
mi corazón se desató en el viento.

Pablo Neruda

6 de dezembro de 2004

"O problema está em que muitas vezes, quando apontamos a estrela em particular, insistem em olhar para a ponta do nosso dedo... e não conseguem ver o que se aponta"

Líderes de “falo” 2

Fui ver a história hollywoodesca de Alexandre, O Grande.
Com todos os defeitos e virtudes.
Crua a efeméride.
...
Fala de liderança e de transmissão de sonhos e vontades.
De como a querença de um homem se contagia à massa humana necessária.
...
Uma palavra e nenhum dos seus seguidores hesitaria em apartar o externo, ao cair para cima do gume de uma qualquer lâmina ameaçadora.
Liderança. Não cegueira ou adoração.
...
Lição.
No único momento em que a liderança foi substituída pela imposição... Alexandre perdeu.
Os homens deixaram de acreditar no sonho... e no seu líder.
Viram-se forçados a qualquer coisa com o qual não concordavam... e essa espada para onde antes cairiam... servia agora para ser empunhada... ironias...
...
Mas como escrevi anteriormente...
Não é coisa que se escolha.
Oliver Stone também o sabe...