26 de setembro de 2005

Não, não vou por aí
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces,
estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
e cruzo os braços,
e nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
-Que eu vivo com o mesmo sem vontade
com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
por que me repetis: "vem por aqui"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
redomoinhar aos ventos,
como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
a ir por aí...

Se vim ao mundo,
foi só para desflorar florestas virgens,
e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
e vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
tendes jardins, tendes canteiros,
tendes pátrias, tendes tectos.
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca princípio nem acabo,
nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um atomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
-Sei que não vou por aí!

Cântico Negro, José Régio

23 de setembro de 2005




Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Saber a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar...

Doi esta corda vibrante
A corda que o barco prende
à fria argola do cais
Se uma onda que a levante
vem logo outra qua a distende.
Não tem descanso jamais.


António Gedeão

Momentos...

21 de setembro de 2005

Hoje, assim.


" Eles, os mais velhos, sentiram a falta do sarraceno, do mouro, do General Intrépido que alguns conheciam pelo nome próprio e só alguns como Zudan."...
In atuleirus

Não consegui comentar...

No teu post, por dificuldades técnicas...
Tive que o fazer no AdverCidades, com uma técnica dificuldade,
pela vista turvada de água.

As saudades ultrapassaram o controlo emocional de Zudan,
que apenas aceita o nome de Discípulo do "My Captain".

Que neste momento de glória, os olhos te brilhem de alegria como os
meus brilham de tristeza por não te poder acompanhar, a Servir.

" WE THE WILLING,
LEAD BY THE UNKNOWING,
ARE DOING THE IMPOSSIBLE,
FOR THE UNGRATEFUL.
WE HAVE DONE SO MUCH
FOR SO LONG WITH SO LITTLE,
THAT WE ARE NOW QUALIFIED,
TO DO ANYTHING WITH NOTHING."

20 de setembro de 2005

Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

Alberto Caeiro

Tempus fugit… carpe diem ou em alternativa… sofreguidão.
...
Avidez, ou borboletas.

-borboletas?!
-Sim. Borboletas. Quando sentes o estômago a encolher-se...
-?!
-Ansioso, delirante, apaixonado, desesperado, nervoso, qualquer uma dessas merdas...
-Está-se a passar...
-Não compreendes?
-O quê?
-São as borboletas, como se as entranhas ganhassem vida.
-Isso é ?!
-Não estás a ver?
-Lembras-te quando éramos putos?
-Sim.
-Já falavas nessas coisas...
-Sim. São coisas que fazem parte de nós, não são artigos de desespero...
-... e continua....
-... Apetece-me ir à praia.
-?!?
-só ali consigo respirar.
-Não te percebo.
-Sim. Está bem.
-Mas eu vou, não estou lá... mas vou.
-E dizes que não me percebes...

19 de setembro de 2005




Falávamos sobre gerações...

Os "estilhaços" do 25 de Abril, como dizia a um colega.
Aqueles que resolveram fazer frente ao processo de invasão do capitalismo.
Que absorveram todos os conceitos da idade da comunicação/informação, nunca esquecendo as responsabilidades de cidadania e de evolução.
Os que foram bombardeados com todas as incoerências e ganâncias daqueles que não dão valor ao desenvolvimento em conjunto com os valores mais nobres.
Os que pretendem fingir que são, com o que não tem, para quem não interessa.

Ainda cometemos erros.
Ainda esperamos por D.Sebastião.
Mas... ainda temos fôlego para "virar" o barco de vez em quando,
e reviver o passado, com um sorriso nos lábios.

Adaptações de uma sociedade que há 31 anos cantava o hino nacional nas aulas e agora obedece às viragens políticas de Bruxelas.

Sempre sob vigilância, electrónica ou não.

18 de setembro de 2005

Hoje tou de lua...


17 de setembro de 2005

És um ser aparentemente austero, assim como se firmasses um bloco de gelo no teu interior...
Depois... e apenas quando permites, vê-se que o gelo apenas ocupa aquela tua primeira capa.
E essa ... é aquela que vulgarmente utilizas na rua.

...

Se os outros não me conhecem, eu conheço-me.


Florbela Espanca

13 de setembro de 2005

Desde o dia 11 de Setembro entrei em mais
um daqueles processos de (de)formação.

Isolado.
Sem horários.
Sem acesso ao mundo exterior.
Obrigado a fazer algo que não gosto.
A tecer criticas daquilo que não percebo.
A não estar com quem quero.
A dormir e a comer quando possível.
A deixar de ser EU.

E MUITO

Desesperado por voltar a …
Ouvir…
Ver…
Falar…
Tocar… e saborear.

Estou fora de mim... outra vez.

10 de setembro de 2005

Hoje...


5 de setembro de 2005

O adverso e o antagónico.





A imagem acima mostra o olho de um furacão como o Katrina.
Chamam-lhe o dedo de Deus.
O seu tamanho pode variar entre 8 e 200 km. Normalmente é uma zona calma e livre de nuvens... uma fotografia do Céu.
Na periferia, os ventos atingem velocidades de centenas de kilómetros por hora.

Resultado:
Milhares de mortos e desalojados no sul dos Estados Unidos.
A transformação da paisagem.
29.000 desaparecidos.
10 a 25 biliões de dólares de prejuízo
A União Europeia e a NATO receberam hoje um pedido oficial de ajuda dos Estados Unidos.
Cuba anunciou que vai enviar 1100 médicos para a zona de passagem do furacão.
Portugal vai enviar petróleo...!?
Países como o Sri Lanka, Venezuela, Israel, Russia, Japão, Canada, Franca, Honduras, Alemanha, Jamaica, Austrália, Inglaterra, Holanda, Suiça, Grécia, Hungria, Colômbia, República Dominicana, El Salvador, México, China, Coreia do Sul... também vão ajudar.

Outros resultados:
A passagem do Katrina expõe de uma forma violenta a insignificância da soberba política externa norte americana.
A arrogância perdida acompanhada daquele exibicionismo pretensioso das cadeias de televisão ... tudo trocado... tudo ao contrário.

Desapareceu o Iraque, a Al Qaeda, o Afeganistão, Londres, Madrid, as férias de Bush ...os preparativos do aniversário do “nine/eleven”...

Desta feita não existem culpados.
Estranho... este dedo de Deus.