27 de janeiro de 2005

Cruzamentos.
Passamos pela rua e normalmente acreditamos que vemos o que nos rodeia.
Observamos.
Cruzamo-nos com faces e andares sabidos.
Cumprimentamos.
Quando é apenas uma cara familiar, esperamos desesperando para ver a reacção da outra pessoa.
Quando não há reciprocidade, desalentamos ou sentimo-nos ofendidos.
...
Cruzar o olhar com um desconhecido tem por vezes efeitos inexplicáveis.
O estômago embrulha-se como se as entranhas ganhassem vida própria.
O pensamento desvia-se sempre nessa direcção e a essência descobre-se...
Decidimos recordar que afinal somos feitos de uma matéria única, que gosta, pensa, odeia, sente e ama... que afinal, vive.
...
Podemo-nos até preocupar com os olhos com que nos cruzámos naquele dia... mas assim e desprovido de qualquer interesse, o pensamento, inocente e atraiçoado, pode voltar a engolir as vísceras...
...
Descobre-se um afastamento involuntário.
Vomita-se um comentário desafogado, explora-se a violência mas... no nosso íntimo...
não gostamos de ver sofrer.
A dor choca-nos e derrota os laivos de alegria, retira-nos a sobriedade de pensar.
Por vezes sobrepõe-se ao carpe diem que nos leva a atravessar uma manhã após a outra... mostrando o nosso sorriso parcimonioso.
Afoga-nos o pensamento e a necessidade de não querer ver sofrer...
O choque de um olhar, híbrido na capa de uma revista... na televisão ou no jornal...
...
Uma criança que não sabemos o nome e que descansa no colo do seu pai, sem vida.
...
Derrota-nos e esclarece-nos.
Mostra-nos o mundo... esquece-nos no meio das futilidades da vivência urbana.
Esclarece-nos o que os cruzamentos são.

24 de janeiro de 2005

O circo da campanha voltou...
Ah e coiso e tal e o camandro...
Ah e já dizia o picanço...
E o outro é que fez... mas assim é que é....
...
Facto.
O PIB deste quintal tem vindo a cair desde 1973.
...
Facto.
O investimento privado está a fugir para outro lado.
...
Facto.
A população activa está a diminuir.
...
Facto.
O orçamento está sobrecarregado e recorre-se a receitas extraordinárias, para (tentar) equilibrá-lo.
...
Facto.
Quem paga impostos é quem não tem contabilista.
...
Facto.
A qualidade dos políticos caiu a pique nos últimos vinte anos.
...
Facto.
Para alguns a frase “espírito de missão”, é sinónimo de "enriquecer antes dos quarenta".
...
Facto.
Pela primeira vez, acho que coiso e tal e o camandro, e vou para a abstenção porque até me dizem que sim senhor, e coiso.

Merecem.
A democracia não, mas coiso e pronto.


Sr. Político:
Se teve algum tempo, no meio das suas dissertações altamente elucidativas, ( sobre a sua incapacidade para tirar o País de onde se encontra) para consultar um local na net, que até... pronto... sim senhor, tem até ao dia 19 para me convencer.
Caso contrário... prontos.

18 de janeiro de 2005

Burocrata
do Fr. bureaucrate
s. 2 gén.,
funcionário público, em especial o funcionário do Estado que segue impreterivelmente os formalismos de secretaria;
o que faz parte da burocracia.

Funcional
do Lat. functione, função
adj. 2 gén.,
relativo a uma função ou um conjunto de funções (de um organismo, de um maquinismo, de uma instituição, etc.);
prático;
que se usa facilmente;
cómodo;
pronto para entrar em funcionamento;

Eficiente
do Lat. efficiente
adj. 2 gén.,
eficaz;
agente de acção;
que produz realmente um efeito;

Incompatível
do Lat. *incompatibile
adj. 2 gén.,
que não é compatível;
que se não pode harmonizar ou acumular;
inconciliável.


Está nos livros porra.

10 de janeiro de 2005

Engraçado.
Pensei que um dia mudaria o mundo... sonharia a meu belo prazer com as desgraças resolvidas e revolvidas nos espíritos menos imponentes.
A frase “ não deixes que ninguém venha a ti sem sair melhor e mais feliz” foi a minha contenda.
Naquele mundo de super heróis e pensamentos corajosos, gania-se pela raiva provocada pela injustiça.
Naquele mundo não se estava sentado, embrenhado entre o choro e o desespero de quem precisava... de ajuda.
Naquela guerra, ficaria desperto, empregaria termos de alegria ao invés da angústia que me atormenta... e o nada não seria a palavra dos pesadelos.
O nada pertenceria à terra dos sonhos... tal qual como aquele homem cantava naquela telefonia, afogado numa garrafa de qualquer coisa.
Engraçado.
Esperei, que um dia fosse mais um... da parte apta e que movimenta a roda. Que tentasse transmitir algo e... que não fosse apenas... mais um....
Sonhava em ser o contentamento daquelas gargalhadas inconsoláveis... e que elas não bradassem ao seu dono... pois de tamanha inocência, sabia que era apenas... assim.
Era como cuspir as palavras para uma folha.
Necessitam de ser expelidas. A caneta dá-lhes forma e a folha entranha-as... bem ou mal. São assim. Puras. Cuspidas.
Naquele campo de esperança, apenas se queria crescer. Desejava-se a altura e a vontade. Jurava-se a sangue que não desencardia. Sangue com cor de terra e cheiro de sal.
Engraçado.
Como o presente gritou pelo passado do sonho, e aquele argumento de um qualquer filme de segunda categoria, me desloca de novo para a idade onde pensei que mudaria o mundo... e sonharia a meu belo prazer.
Aquele pequeno vilão das nêsperas, sonhava um amanhã para outros tantos pequenos vilões... de nêsperas.
A meninice nunca tocariam na marginalidade.
Nenhum ficava para trás. Nenhum era apanhado sozinho.
...
- Fujam malta, vêm aí o homem...- gritava o vigia do alto da parede esfolada e esbatida pelo sol.
De dedos lívidos e joelhos rasgados do cal das paredes, esgatinhavam os muros, e corriam com um sorriso nos lábios e as camisolas mascaradas de sacos... cheias de nêsperas.
Era o gozo da apanha. De contenda em contenda iam-se despindo as árvores nespereiras do "velho da casa";
O gozo da corrida à frente de alguém que até sorria com os cachos de putos pendurados nas àrvores...
Acho que chegamos a ser observados do interior daquela oitava quadrícula de vidro partida... sei que ele esteve lá.
Mas nunca lhe cheguei a saber o nome.
Mas que eram boas, ... as nêsperas, lá isso eram.
...
Engraçado.
Hoje, apenas conto os capítulos, sem saber quando o epílogo virá.
E espero que a história se imobilize. Mal extinta. Mal contada. Antes que a raiva me esventre e a solidão me acompanhe.
Sou o bafejar de um episódio que ainda não sei porque não acabou... daquele livro desorganizado e por escrever.
...
Os vilões de nêsperas, esses...
Engraçado.
... ainda estão à espera para crescer.

8 de janeiro de 2005

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo) e
cloreto de sódio.

António Gedeão

2 de janeiro de 2005

Começou.

Como em todos os preâmbulos, a esperança e os sonhos estão em estado puro.
O leitor, no caso de um livro, ainda devora as palavras esperando o assombro e o superior.
Não sei se será desculpa ou uma forma de nos convencermos que devemos tentar outra vez... e mais outra... e mais outra.... ou apenas uma conformação de que somos feitos daquela matéria inesgotável, que até renasce das cinzas com a facilidade da fénix.
...
A capacidade de reconstrução está embutida na nossa matéria.
...
Mais um início.
Contra todas as adversidades.
Que a fé seja o guia do nosso batel.
Mais do que um bom ano, uns excelentes 365 dias.