28 de dezembro de 2010

Hachico (chūken Hachikō, "cão fiel Hachikō") é estrela de cinema e exemplo de lealdade no Japão, mas para mim, é apenas um cão entre muitos.
Hachikō vivia em Tóquio com o seu dono, um professor da Universidade daquela cidade. Hachi (Hachikō é o diminutivo de Hachi) acompanhava todos os dias, o seu dono, desde a porta de casa até à estação de trens de Shibuya, regressando para encontrá-lo ao final do dia.
Aquele cenário, que se repetia todos os dias, de manhã e à noite, impressionava profundamente todos os transeuntes da estação de comboios, que viam com espanto a entrega do animal a seu dono. A rotina continuou até uma tarde fatídica em que o professor não regressou no comboio habitual, como de costume. o seu dono sofrera um AVC na universidade naquele dia, nunca mais retornando à estação onde sempre o esperara Hachikō
A história diz, que na noite do velório, Hachikō passou a noite deitado ao lado do seu dono.
Hachikō, após o falecimento, continuou a ir todos os dias à estação de Shibuya, à espera que o dono voltasse para casa. Todos os dias procurava a figura do professor Ueno entre os passageiros, saindo somente quando a fome o obrigava.
Dia após dia, ano após ano, durante nove anos e dez meses, Hachikō, ao final da tarde, precisamente no horário do comboio, esperava pelo regresso do seu dono e amigo.
A morte de Hachikō fez as primeiras páginas dos principais jornais japoneses, e muitas pessoas ficaram inconsoláveis com a notícia. Um dia de luto nacional foi declarado.
***
Em conversa com alguns anciãos, soube que afinal, na minha terra haviam vários "Hachico´s".
Um deles, quando o dono faleceu, acompanhou o funeral até ao cemitério e ficou deitado na campa, tendo morrido à fome naquele local.
Outro, talvez o mais conhecido, após ter acompanhado o funeral do dono, cada vez que o sino da igreja tocava, ia ao cemitério, participando em todas as marchas fúnebres da vila durante cerca de nove anos. Já sem conseguir andar, quando ouvia o sino anunciar alguma missa ou falecimento, gania sem parar durante alguns instantes, até que sem força se prostrava em si cheio de tristeza.
A minha primeira “Hachico”, no dia que o meu avô subiu ao céu, dormiu junto da sua cama e ali ficou durante alguns dias. Dizem que se atirou contra um carro algumas semanas depois.
O que é certo, é que, sendo a lealdade um conceito humano, cada vez há mais exemplos de valores (em extinção) vindo do mundo dos animais, deixando para nós, esta condição cada vez mais degradante e baixa que é viver como uma pessoa.
Lealdade e amizade, recordadas e defendidas por um simples cão.
Desculpa Manuel Alegre mas "Cão como nós" não.
Eles são fiéis e sabem o que é o amor incondicional.

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