18 de novembro de 2006

Por vezes sinto que apenas desisti de tudo... só isso.


Sexta-feira, 17 de Novembro de 2006 in TEMPUS A TEMPUS
coesão extrema
[...] no trabalho era um grupo tão unido, tão homogéneo, tão pessoalmente intricado e envolvido, que sem darem conta, aquelas oito almas se juntaram num denominador comum da vida: uns com filhos, outros sem, uns mais novos, outros menos, acordaram para a realidade de precisamente ontem, todos estarem ao mesmo nível: separados ou divorciados.

Todos eles juravam que não iriam repetir erros; todos eles faziam votos de fé em algo de melhor; todos eles, visivelmente sofriam por ter feito sofrer - um compensava com a fuga para Índia - ninguém sabe se ele volta; se quer voltar.

Até o longínquo "humilde sarraceno" elegera como modus vivendi a dedicação ao rebento, deitando para trás das costas vida em comum.

Para espanto de outros noutros andares do mesmo edifício, todos eles cantavam a plenos pulmões a música de um tal "feitiço", mesmo não se conhecendo feiticeiras. A Santa Inquisição exterminara a confiança no efémero feminino e cavara a sepultura para corpos sem sentimento patilhável. E contudo, não havia naquele canto, naquela catarse, qualquer resquício de felicidade.

Julio Machado Vaz observava numa das suas recentes exposições, que cada vez mais tinha pacientes que, à roda dos "cinquentas", lhe confessavam que tinham tido uma vida exemplar e calma, restando a dúvida de nunca terem amado.

Há algo de profundamente errado na Vida, naquela irmandade de trabalho? Porque nos deixamos atrair pelo abismo da opção dolorosa? Era necessário? Era sal da Vida?

Tempus difíceis estes.[...]

2 comentários:

Anónimo disse...

Em honra das feiticeiras, desaparecidas devido à Inquisição:

Feiticeira

De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu, feiticeira
De nuvens deslumbrada

De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu, feiticeira
Aninhar-te ao meu lado

De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu, feiticeira
Segredar-me ao ouvido

De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida.

(Francisco Viana)

Anónimo disse...

não desistas, desistir é próprio dos fracos... e tanto quanto sei tu tens uma vontade de ferro!