10 de julho de 2009




Alguém fez mais um aniversário.
Eu fechado no meu apartamento. Em reclusão.
Ele, o aniversariante, estava lá fora.
Ao calor e à chuva que não caía.
...
Ele nunca gostou de festas nestas alturas.
A timidez tomada na exposição de outrora e as brechas da vida, curtiram um Homem,
calado, reservado, introspectivo e nestas datas, profundamente infeliz.
Sei que tenta festejar o aniversário, mas nem se lembrou que era a sua data.
Passou o dia à espera. De nada. De tudo.
Da gota de chuva que pudesse molhar-lhe a alma.
...
Cá dentro, o telefone tocou inúmeras vezes. Vozes de carinho e de respeito pelo aniversariante que estava no lado de fora.
Atendi por ele. Respondi que não se encontrava o homem da festa.
Aqui apenas estava eu. Fechado. recolhido por estas paredes já sem cheiro.
Se fosse eu a fazer anos –pensei- teria adorado as inúmeras chamadas telefónicas e mensagens...
Sinal de qualquer coisa... Vi que muita gente gostava dele. (Não de mim...)
Desassossegavam-se com a ausência do Homem do aniversário. (Não comigo...)
Afinal, ele, lá fora à espera da chuva neste dia de calor, não sabia que fazia anos...
Incólume ali estava, olhando para o céu.
Abstraído. Como se o sonho lhe caísse nos braços a qualquer momento.
Eu aqui, isolado entre quatro paredes... apenas sei que vou ficar mais dias, aqui, fechado...
Queria fazer anos hoje...
Queria muito trazer o aniversariante para dentro deste apartamento... vazio.
Juntos beberíamos um copo.
Brindávamos a todos os aniversários do mundo.
Mas ele não quis entrar. Acho que não sabe que faz anos...
Pode ser que no Natal já venha cá para dentro... – Entretanto... vou continuar a olhar para ele da minha janela.
Só a olhar para ele...
Um dia virá para dentro... ou sairei eu para o pé dele.

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