9 de dezembro de 2008

No ano 2003, numa tarde medonha e entediante de Junho, levou-me o acaso para o meio da Feira do Livro de Lisboa.
Naquela mesma feira, algures entre o monumento à virilidade masculina do Cutileiro (monumento 25 de Abril... compreendo porquê) e o topo do parque, surgia uma fila de pessoas, mínima de mas atenciosa, em direcção a um banco de madeira escondido debaixo de uma pequena mesa alentejana.
Aquela mesa parecia sair de uma tasca típica daquela região, mas o burburinho quase sem expressão, fazia-me acreditar que seria uma sessão de autógrafos... de um autor desconhecido, pensei.
Enquanto deambulava entre os escaparates, a minha atenção prendeu-se naquele cenário familiar, pois naquele banco, tinha acabado de se sentar o escritor português José Saramago.
Não sou de autógrafos. Quando era garoto, tinha apenas um pequeno bloco feito na escola, com alguns rabiscos de jogadores de futebol... que nem eram heróis...
Naquela tarde, o saco que tinha comigo, continha no seu interior "Os Poemas Possíveis" daquele que é, na minha opinião, um dos maiores escritores portugueses.
Pensei em aproximar-me, somente para o ver com a sua Pilar... observá-los...
Cinco minutos depois e comigo completamente fora da fila, o olhar dele apontou-me. Eu olhei-o e ele falou sem saber o que continha o meu saco;
- Quer dedicar a alguém?
Ao mesmo tempo que atabalhoadamente a minha mão procurava a encadernação em causa, respondi-lhe;
- Não... mestre... escreva o que entender...
Ele sorriu e escreveu.
"Para um poeta... os poemas possíveis..."
Um abraço
José Saramago

Lembro-me de fotografar a preto e branco, os reflexos de uma montra, numa livraria em Zurique uma semana depois deste Senhor ganhar o Nobel... o único autógrafo que tenho...

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