A morte nunca me assustou.
Talvez por a vida ser isso mesmo. Vida e morte.
Falo apenas da minha... sobre a dos outros...
... Um dia vou saber viver com isso.
Um dia vou saber gerir a tristeza e a alegria.
Saber quando sorrir e quando chorar nos momentos exactos.
Saber fazer tudo como esperam...
...
Faleceu mais um dos meus “velhos”.
Desapareceu mais um bocado da infância que me talhou.
Mais um momento de pesar, mas sobretudo para pensar...
O Manel faleceu sem ver o mar.
É verdade Manel. Nunca viste o mar.
Conhecias aquele teu largo e a ribeira como ninguém...
Milhares de vezes ali viste o por do sol, depois de dares de comer ao gado.
Sabias de cor o percurso que um dia fiz para te ir comprar “provisórios”
enquanto cosias as botas que calçavam meia vila.
também me fizeste umas.
Com cardas e protectores, para fazer barulho e deslizar no átrio da igreja riscando o chão encerado.
Fazia-me feliz...
...
- Não viste nada. - diziam as carpideiras.
Não é verdade Manel.
Apenas nunca viste o mar. É a única coisa que me arrependo por ti.
Sei que em vida, nunca entraste em cemitérios...
...eu entrei duas ou três vezes... sempre fugi de funerais... para dor de muita gente...
Não sei lidar com a morte. Não sei fazer lutos.
Um dia vou saber...
Vou saber...
Ontem soube descer-te à terra.
Segurei nas cordas com os outros homens e com os braços a tremer..
Enquanto segurava as cordas... molhei-te o caixão...
Com sal...
com um bocadinho de mar Manel...
Há 2 anos
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