15 de março de 2007

Os bocadinhos de morte...

Li há uns dias um artigo sobre uma vítima de Atocha.
Falava que naquele dia tinha morrido uma grande parte de si.
De como não consegue entrar em comboios desde aquele fatídico dia.
Viu a morte...
Como muitos de nós.
Acho que de cada vez que nos confrontamos com a morte, perdemos um pouco o interesse na vida.
É como ler o fim do romance quando ainda vamos no primeiro capítulo.
Perde-se a magia de viver mas ganha-se o respeito pelo período que se respira.
Ganha-se consciência do tempo.
...
Para quem lida com a morte...
Estes artigos, das Atochas e dos Ruandas de todos os dias, são pequenos fragmentos de conforto.
Testemunhos da vida de cada um.
Cor nos olhos a preto e branco, lívidos e cansados, próprios de quem a contempla todos os dias.
...
Na vida, começa-se com os índices no máximo.
O débito começa quando se deixa de ser criança... às vezes à força.
Começamos a perder vida no momento em que abandonamos a percepção de ser criança.
...
Ser feliz é apenas evitar que a nossa cota baixe muito rápido, para que a vida do nosso corpo corresponda à nossa Vida.
Ser feliz é apenas evitar que se morra... um bocadinho todos os dias.

1 comentários:

sarrafo disse...

De cada vez que fui confrontado com a morte, fiquei com mais interesse na vida, claro que foram coisas relativamente rápidas excepto a última. Quer dizer... não é bem rápidas é mais muito intensas...mas suponho que sejam assim mesmo as life/death experiences...